Gabriel no tempo da igreja
Gabriel no tempo da igreja
Gabriel é o homem cuja história aclamou vida longa num tempo indefinido. Gabriel sobrevive sozinho numa Igreja em ruínas em Mar Grande, localizada na Ilha de Itaparica - Bahia há mais 30 anos. Sua representação perpassa do antigo ancião no alto da montanha ao indivíduo contemporâneo com sua individualidade impenetrável. Literalmente chamado de “hermitão”, Gabriel é um mito para população local, chamam-no de santo, traficante, demônio e outras expressões, mas Gabriel é uma pessoa que decidiu viver do seu jeito, do seu modo, convicto de todo o inicio, meio e fim.
Sua expressão parece misturar a própria experiência iniciática, rezas, benções, mitos e ritos. Gabriel diz ter sido criado por uma índia, abandonado na porta da casa de uma família aos 5 anos e criado como uma criança normal, até a grande tragédia que mudaria sua vida. Um acidente de carro comprometeu a vida de seus pais e irmãos. Apenas Gabriel sobreviveu, ainda jovem, arrumou uma mochila com poucas roupas e caiu no mundo rodando o Brasil, chegando na bendita igreja localizada na Bahia, disse para si mesmo – morrerei aqui. Entrou em seu “santuário” na década de 70 e ficou até a sua morte. Sobre a igreja, Gabriel dizia que toda noite demônios espanhóis vão atormentá-lo nos telhados, por isso em algumas ocasiões coloca garrafas cheias de água entre as telhas velhas. Para o ancião, a igreja além de santuário, parece ser também uma espécie de túmulo sagrado. Gabriel parece uma figura divinizada pelo tempo, a barba longa, unhas crescidas e uma expressão de quem sabe muito da vida. Foram 4 dias de gravação, 1 semana de pesquisa e uma queda da nossa querida editora Iris de Oliveira num barranco chuvoso próximo a igreja. Descobri que a igreja tinha mais de 300 anos e realmente fora construída por uma família de aristocratas espanhóis. Além de ritos católicos, posteriormente a igreja fora centro de umbanda e reduto de hippies na década de 70. Hoje mais de 80% da igreja está em ruína, estranhamente, sobrou apenas o local onde Gabriel dormia. De resto não sobrou nada.
O estado junto ao IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia)praticamente ignora a possibilidade de restauração da igreja, deixando a cargo do mar e do tempo terminarem essa fabulosa história digna de um conto de realismo fantástico.
OBS: Tema da exposição “Gabriel no tempo da igreja” realizada na Bélgica, Bahia e São Paulo por Valnei Nunes. O vídeo foi co-dirigido por Marcelo Rabelo, Iris de Oliveira e Valnei Nunes .