Vive La Borde
Vive La Borde
Para quem não conhece o interior da França, uma cidade chamada Blois é um dos roteiros fora do guia de um país imerso no turismo internacional. Há 1h de trem de Paris, a cidade concentra dezenas de castelos dos mais exóticos possíveis, nos quais a nobreza passavam suas férias e aproveitavam intensamente os luxos e extravagância da realeza européia. Hoje a cidade é consequentemente habitada por ricos latifundiários franceses “quase invisíveis” vivendo as voltas da cidade. Contudo o que me chamou a atenção não foram os castelos memoráveis da realeza, mas sim um pequeno castelo fundado pelo psiquiatra Jean Oury e o psicanalista Guattari – grandes pensadores do seu tempo – o histórico hospital psiquiátrico La Borde.
O hospital foi linha de frente na humanização do tratamento de saúde mental na Europa e também precursor da luta antimanicômial. Deleuze, famoso filósofo passou anos as voltas na clínica. Focault escritor e também filosófo desenvolveu grandes estudos sobre a loucura também a partir de suas experiências no La Borde. Hoje Oury, permanece administrando a clínica com seus lúcidos e fartos 89 anos. Atualmente a clinica é particular e a atmosfera livre e medicamentosa envolve o pequeno castelo, trazendo apenas a lembrança da era de ouro da antipsiquiatria. Quando cheguei no hospital fui surpreendido por um evento chamado “Bar Brazil” – coordenado pela psicóloga baiana Zézé – no qual são preparadas comidas típicas brasileiras, ao som de musica popular brasileira. Curiosamente de 2 em 2 anos Zézé seleciona pacientes da clínica para fazer uma turnê pelo Brasil, passando por Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, segundo Zézé os pacientes voltam apaixonados e adoram o Brasil.
No sótão do pequeno castelo dormem os quase 20 estagiários vindos de todo o mundo, inclusive brasileiros. Uma ótima premissa pra as novas gerações que seguem o modelo anti psiquiátrico de tratamento, difícil na prática sendo que na atual Europa ha alguns anos vem passando por um retrocesso no modelo do tratamento piquiátrico. O retorno aos velhos modos de tratamentos, traz de volta a “era dos hospitais” na Europa. Sendo assim La borde é um fiel representante das poucas transformações geradas pela eminência de um novo olhar sobre a loucura nos tempos de confinamento e violação do indivíduo, tempos esses que foram e sempre estarão por vir.
Vive La Borde.